Crise e doenças crônicas puxam venda de genéricos

Por Stella Fontes | De São Paulo

07/04/2017 às 05h00

A crise econômica no país, que diminuiu o poder de compra das famílias, acelerou as vendas de medicamentos genéricos, especialmente daqueles usados no tratamento de doenças crônicas como hipertensão e diabetes. De 2014 até o fim do ano passado, enquanto o mercado farmacêutico cresceu, no geral, 16,67%, as vendas de genéricos em unidades avançaram 29,75%, segundo levantamento da PróGenéricos, cujas associadas são responsáveis por cerca de 90% desse mercado.


Entre os anti-hipertensivos, que já figuravam entre os principais genéricos em vendas no Brasil, esse descolamento é ainda mais acentuado. Enquanto os produtos similares venderam 26% mais e a procura por medicamentos de referência subiu 10%, os genéricos usados para tratar hipertensão registraram alta de 38%. “Percebe-se claramente que o genérico tem sido a opção do consumidor”, diz a presidente-executiva da entidade, Telma Salles.

Conforme a executiva, há tendência de substituição do remédio de marca ou similar no mercado como um todo, mas na área de doenças crônicas, cujo tratamento não pode ser interrompido, esse comportamento se acentuou durante a crise econômica. No caso dos antilipêmicos, usados no controle de colesterol, para a alta de 12% nas vendas de similares e a queda de 10% nos produtos de referência nos últimos três anos, houve crescimento de 29% em genéricos.

“Os genéricos se converteram num refúgio para os consumidores brasileiros que precisaram dar sequência a seus tratamentos de saúde sem sacrificar o orçamento familiar”, afirma Telma. Ao mesmo tempo, essa categoria de remédios tem crescente aceitação na classe médica. “Há consolidação de imagem do genérico”, acrescenta a executiva.

O levantamento da PróGenéricos mostra ainda que a chegada do produto genérico para hipertensão e controle de colesterol expandiu o mercado farmacêutico e ampliou o acesso ao tratamento das doenças. De 1999 até 2016, as vendas de anti-hipertensivos no país passaram de 67 milhões para 431,4 milhões de unidades. Em antilipêmicos, a expansão foi ainda mais significativa: de 3,4 milhões para 67,3 milhões de unidades.

Apesar desse desempenho, a indústria de genéricos tem visto suas vendas perderem ritmo em relação às taxas de crescimento pré-crise. Em 12 meses até janeiro, conforme a PróGenéricos, a alta nas vendas em unidades (1,14 bilhão) foi de 12,87%, contra 5,05% de expansão do mercado farmacêutico no geral. Em receita, o segmento movimentou R$ 6,5 bilhões no período, já considerados os descontos concedidos ao longo da cadeia, o equivalente a alta de 11,73%, segundo dados da consultoria IMS Health.

Conforme Telma, a expectativa da indústria é ao menos manter a taxa de expansão das vendas em unidades até o fim do ano. Hoje, os genéricos representam 32% das vendas em unidades no varejo farmacêutico brasileiro.


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