Mercado nacional de genéricos conquista maturidade na crise

A resistência aos medicamentos genéricos vem caindo no Brasil, aproximando o País de mercados maduros no setor farmacêutico. E mesmo com a melhora da economia, o brasileiro dificilmente deve abandonar o novo – e mais barato – hábito nas farmácias.

“Uma vez que o consumidor encontra no genérico o mesmo nível de qualidade e eficácia, não tem motivo pra voltar para o original”, diz Guilherme Barsaglini, diretor de marketing e inteligência de mercado da Sandoz, empresa farmacêutica do grupo Novartis.

Os genéricos são cópias de medicamentos cujas patentes já expiraram. Dados da Associação Brasileira das Indústrias de Medicamentos Genéricos (PróGenérico) apontam crescimento de 11,78% no volume de unidades vendidas em 2017. O resultado é superior ao desempenho do mercado farmacêutico total, que fechou com crescimento de 5,73%.

“O mercado farmacêutico cresceu de maneira mais lenta do que o esperado, enquanto os genéricos apresentam mais fôlego”, aponta Barsaglini.

O gerente geral interino e diretor comercial e trade marketing da Pfizer Consumer Healthcare, Silvio Silva, conta que, após um primeiro semestre com crescimento de demanda para os medicamentos isentos de prescrição (MIPs), o mercado sofreu o impacto da economia. “Houve uma retração no segundo semestre, especialmente para as marcas. Os produtos que sofreram menos foram os genéricos, de menor preço.”

Barsaglini admite que o aperto financeiro que o brasileiro enfrenta influi nessa tendência, mas acredita que a confiança no genérico tende a crescer. Para ele, a perspectiva é de crescimento contínuo, mesmo com a melhora da economia.

“No cenário onde a receita familiar diminui, se procura novas opções de consumo. Assim, a cultura muda e se desmistificam ideias sobre a qualidade de genéricos. É possível reduzir gastos sem abrir mão da qualidade”, afirma o executivo.

“O consumo de medicamentos genéricos tem tendência de aumentar pela demanda de parte da população que não tem acesso, que deixa de comprar por não ter dinheiro. A perspectiva para 2018 é de crescimento no volume de vendas”.

Os genéricos já representam 32,46% do mercado de medicamentos (em unidades). Para a presidente da PróGenéricos, Telma Salles, embora a melhora da economia possibilite ampliar a condição de acesso, a confiança estabelecida no uso dos genéricos não deve ser abalada. “O share dos genéricos tem crescido continuamente ao longo dos últimos anos, o que demostra que depois de iniciada a relação de consumo, esta se mantém”, afirma.

“Como são eficazes e seguros, os genéricos fidelizam e garantem a qualidade dos tratamentos. Não há porque pagar mais caro para obter a mesma efetividade no tratamento”.

De acordo com Silva, embora a maior parte do público da companhia seja dos segmentos A e B, nota-se uma confiança maior nas marcas por parte das classes C e D. “Essas pessoas não podem arriscar e errar na compra”.

Para este ano, a Progenéricos estima um crescimento no mesmo patamar de 2017.

Perspectivas do setor

Apesar do consumo de medicamentos ter aumentado no ano passado, o presidente executivo do Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos no Estado de São Paulo (Sindusfarma), Nelson Mussolini, vê motivos para preocupação.

“O aumento do consumo não foi tão expressivo, muito próximo ao do País. O faturamento cresceu 11%, mas não está cobrindo os investimentos nos últimos anos. A rentabilidade das empresas tem diminuído. Ajustes serão necessários, normalmente no desenvolvimento”.

Mussolini afirma que o aperto é causado pela regulamentação de preços feita pelo governo.

“Historicamente, o aumento é abaixo da inflação. Os remédios deveriam receber tratamento igual a outros insumos. Os produtos poderiam estar numa liberdade de preço e aumentar a concorrência”.

Um levantamento da consultoria IQVA mostra que o mercado de MIPs teve crescimento de 5,4% de vendas em 2017. Em nota, a Associação Brasileira da Indústria de Medicamentos Isentos de Prescrição (Abimip) avalia o ano como desafiador, porém positivo.

“O setor sofreu com a recuperação gradual da economia. Mesmo assim, avançamos não apenas em vendas, mas também no entendimento quanto ao papel que o segmento de MIP’s tem para a saúde do País”.

A perspectiva é de crescimento do consumo em todos os segmentos em 2018, alinhado com a melhora econômica do País. Porém, o custo da medicação ainda é um limitante ao acesso para parte da população.

“Seria importante tirar essa carga tributária absurda em um produto tão essencial. Os estados têm problema de abrir mão de suas receitas, mas não observam que poderiam reduzir custos em internações”, afirma Nelson Mussolini.

Guilherme Barsaglini concorda. “A tributação é o principal motivo de o remédio ser caro. É uma discrepância que tem que ser trabalhada pela indústria e discutida com o governo”.

Fonte: DCI